Atualmente a estratégia pautada nos conceitos de ESG, presente em todos os setores de negócios, tem como ponto crítico a inovação, em função da necessidade do alinhamento dos produtos e serviços à causa do aquecimento global. De acordo com o IPCC (Intergovernamental Panel on Climate Change), constata-se que:
a) 55% das emissões de gás de efeito estufa são oriundas dos diferentes tipos de energia utilizada para: prédios, transporte e sistemas energéticos em geral;
(b) 45%vêm da (i) indústria: produção de materiais (aço, alumínio, plástico e cimento) e produtos; e (ii) AFOLU (Agriculture, Forestry and Other Land Use – agricultura, silvicultura e uso da terra).
Economia circular é o nome que se tem dado para a abordagem da redução de emissões de CO2 oriundas da indústria e AFOLU, como demonstrado na figura “butterfly” da Fundação Ellen MacArthur, com seus vários loops e estágios de circularidade.
A inovação, levando em conta as diretrizes da Economia Circular é uma abordagem que vai muito além de reciclar e reutilizar, o produto precisa ser pensado desde a sua concepção. É necessário que no momento da criação do produto se projete também os sistemas da cadeia de suprimentos, produção, distribuição e consumo/reuso/reciclagem. Um verdadeiro estudo de todos os sistemas envolvidos e seus riscos e oportunidades na estratégia dos negócios!!
Existem alguns fabricantes de equipamentos que já possuem também um negócio de remanufatura, revendendo o produto usado com garantia, mas ainda é raro esse tipo de negócio. Outros modelos de negócios similares de reaproveitamento, como exemplo a empresa IKEA na Europa, têm feito pilotos de negócio com recompra, reforma e revenda de sofás, e a partir do aprendizado obtido, poderão multiplicar para outros locais e negócios.
Os Conselhos de Administração e Gestores precisam estar atentos, pois produtos como um celular, com o desenho atual, não atende aos requisitos de economia circular, pois seus componentes são colados, dificultando a separação, reparos e reuso de componentes. No médio longo prazo esse tipo de desenho de produto, provavelmente, não deverá mais ser parte do consumo da sociedade com maior consciência ecológica. A tendência será a fabricação de produtos modulares que permitam ser reparados, remanufaturados ou também feito upgrade quando necessário, eliminando o conceito de obsolescência programada de grande parte dos eletrônicos que consumimos hoje.
Outros modelos de negócio, como por exemplo o de pagamento por uso deve crescer, pois a necessidade da posse de produtos não é mais relevante para as novas gerações. Além disso, esse tipo de serviço traz uma abordagem mais respeitosa ao planeta. Pagamento por uso de carros, bicicletas, máquinas de lavar já existem há muito tempo, mas outros como fones de ouvido, ferramentas e muito mais estão surgindo. A redução do uso de carros nas grandes cidades traz a oportunidade de disponibilização de espaços físicos para outras finalidades, não pensadas anteriormente.
Outro exemplo são os materiais de construção e os seus desperdícios gerados durante a construção. Novas formas de construção tipo 3D printing e desenvolvimento de materiais alternativos para construção deverão mudar esse cenário, considerando também o conceito modular para prédios residenciais e de negócios.
A Economia Circular traz outros benefícios, além de redução de gases de efeito estufa: É um novo racional de vida e de negócio.
Um grande desafio na alimentação, assim como outros segmentos de negócio, é a utilização de plástico em larga escala, pois é um material funcional e barato. Não só em bens de consumo, mas em inúmeras outras aplicações. No caso de bens de consumo, a falta de racionalização de tamanho e formas de embalagem, impressão e rotulagem, cores utilizadas pelos fabricantes de embalagens torna essa cadeia muito complexa e poluidora. Muitos testes pilotos têm sido desenvolvido em alguns países para buscar soluções alternativas para reduzir ou eliminar o excesso de plástico nos lixões, aterros sanitários e mares. Inclusive a mobilização de grandes empresas de bens de consumo globais está atuando em conjunto com a Fundação Ellen MacArthur e outras instituições para repensar os sistemas atuais. As grandes empresas globais de consumo têm o poder de compra das embalagens e podem definir o querem comprar, forçando a cadeia fornecedora a buscar alternativas de organização da cadeia a jusante. Outro grande desafio é o modelo de fast fashion, que também está sendo revisto por muitos fabricantes, considerando alternativas de reutilização e técnicas de reciclagem, a fim de reduzir os impactos ao meio ambiente.
No caso da AFOLU, sempre haverá desafios a serem enfrentados na agricultura e proteína animal, mas algumas soluções como a prática de agricultura regenerativa próximas às grandes cidades são uma tendência e têm sido testadas em muitos países, inclusive no Brasil, principalmente para vegetais, legumes e frutas. Esses produtos se beneficiam da redução de tempo de transporte ao centro consumidor, reduzindo custos e desperdícios.
De forma geral, na produção de proteína animal no Brasil, temos tido crescente instalação de usinas de biogás aproveitando o metano gerado, dentre outras tecnologias como energia solar. Assim como fertirrigação orgânica na agricultura. Investimento em novas tecnologias deverão ser aportados para apoiar os negócios em relação às mudanças climáticas e regulamentações que estão surgindo em outros países importadores de produtos brasileiros. O Brasil tem excelente oportunidade de crescer seu agronegócio pautado na sustentabilidade, ampliando a cada dia as boas práticas já empregadas, além das inovações que deverão surgir.
Apesar das críticas, o Brasil é responsável por uma parcela pequena das emissões globais, cerca de 3% do total, se comparado ao ranking de territórios que mais emitem gases de efeito estufa no mundo. Entretanto, para apoiar o esforço do agronegócio na direção da sustentabilidade é fundamental também a preservação das florestas e seus biomas, preservando também a imagem do país no exterior. Temos um código florestal bastante rígido e precisa ser seguido.
Enfim, esse cenário nos mostra que a Inovação deve ser parte fundamental da estratégia dos negócios e aqueles que não estiverem pensando e investindo nessa direção, correm o risco de ficarem fora do mercado.