Recentemente, estive na Amazônia, num retiro com propósito junto a povos indígenas e comunidades ribeirinha, na floresta inundada a beira do rio Negro. Uma experiência incrível, que gostaria de compartilhar aqui com alguns aprendizados que tirei, comparando com o mundo da gestão e da governança dos negócios.
Já na chegada, o índio, dono do lodge que ficamos, nos disse que era originário da Nação Amazônia. Isto é, uma floresta que abrange 8 países é uma nação por si. Impressionante como eu nunca havia pensado nisso!
Nos passeios pelo rio, vendo aquela floresta parcialmente inundada, fato esse que acontece durante metade do ano, vimos árvores em áreas inundadas e árvores em locais mais altos, já completamente expostas, verdes e lindas. Algumas enormes, com suas raízes expostas quase caindo ou caídas. Isso me remeteu a alguns ciclos do mundo corporativo.
Às vezes, temos pessoas que crescem, ganham poder, brilham durante um período de sua jornada (maré baixa), entretanto não aguentam outros períodos (maré cheia). A fortaleza que as fizeram poderosas em um ciclo a derrubam em outro ciclo, suas raízes ficam expostas e elas caem (quando a maré baixa). O poder da adaptação as necessidades é que traz a sobrevivência.
Caminhando pela floresta, notei que existe uma diversidade incrível de tipos de árvores e animais. Entretanto, quando observamos com mais cuidado as árvores que estão próximas, são todas diferentes. Não existe um grupo de castanheiras, um grupo de tucumã, um grupo de açaí, e assim por diante. A diferença entre as que estão próximas umas das outras tornam a floresta mais rica e forte. A natureza é sábia e entende o poder da complementariedade. E nós, no mundo corporativo, há pouco tempo descobrimos que a diversidade de raça, gênero, formação, experiência, idade, etc… é que trazem os melhores resultados financeiros e longevidade aos negócios.
A palestra do Cacique
Na tribo indígena o cacique nos deu uma palestra, explicando e demonstrando sua cultura e seus rituais. Falou sobre a importância dos diálogos e treinamentos que precisam fazer para os jovens meninos, como sobreviver na floresta, da vida na aldeia, da relevância dos rituais e seu significado. Utilizou várias vezes a palavra “treinamento”, como forma de manter sua cultura. E no mundo corporativo, o quanto reconhecemos que os rituais/rotinas nas organizações é que vão preservar e fortalecer a cultura da empresa? Não adianta falar ou escrever nas paredes o propósito da empresa, é necessário viver isso no dia a dia do trabalho, trazendo significado às rotinas e comportamentos adotados.
Mais interessante ainda é ver como as tribos indígenas também adotam melhorias contínuas, ajustam-se aos novos tempos para que sua população continue se orgulhando e mantendo a cultura, mas vivam os tempos atuais. Os casamentos eram antes escolhidos pelos chefes da tribo, agora não mais. Uma vez que as crianças vão à escola e se mesclam com outras pessoas, ficou mais difícil. Dessa forma, a tribo aceita o namoro e as escolhas dos indivíduos, inclusive a troca dos namorados. Enfim, manter uma cultura antiga, à força, não vai trazer longevidade para a tribo. O mesmo acontece no mundo dos negócios, embora alguns ainda pensem que é possível sobreviver sem melhoria contínua sempre.
As comunidades ribeirinhas me impressionaram demais. Muitas vezes vemos uma casinha isolada as margens do rio, outras vezes poucas casas formando uma pequena comunidade. Comunidades em terra próxima ao rio e comunidades de casas flutuantes no rio, com escola, igreja, mercado, energia elétrica, água, caixa de dejetos, local para lixo… enfim tudo que precisam para ter uma vida digna e organizada. E conversando com eles num encontro que tivemos, nos contaram como amam a vida junto ao rio e a floresta. Muitos moraram na cidade, tem familiares lá, mas escolheram viver nesse local. Produzem boa parte de seus alimentos e produtos, mas algumas coisas precisam comprar.
Tive uma roda de conversa com as mulheres, perguntei o que precisariam para ser mais felizes já que ali tinham tudo que precisavam. E para minha surpresa me disseram que queriam ficar na terra, educar seus filhos, porém ter mais autonomia financeira para progredir sem ter que abandonar o local que amam ou dependerem do ganho dos maridos ou outros. Conversamos sobre suas habilidades, produtos e criação de cooperativa com os produtos que sabem fazer. Entretanto, o maior desafio estava em se juntarem em torno de um único propósito para ensinar umas às outras e assim fazerem um mesmo produto em maior escala para colocar no mercado. Vemos então que o desafio da comunicação e alinhamento acontece em todo lugar. Mas desta vez, o conhecimento dos negócios pode ajudar essas pessoas a manterem seu sonho de ficar na floresta e ajudarem a mantê-la em pé. Não precisa muito, um pouquinho de esforço e atenção às suas necessidades pode trazer muitos resultados. A mesma coisa acontece quando ouvimos as pessoas nos diferentes níveis de uma organização para fazer uma transformação no resultado da empresa. Elas sabem mais sobre suas atividades e necessidades.
Enfim, muito aprendizado. A Amazônia, conhecida como o pulmão do mundo é na verdade o útero do mundo, que traz tanto aprendizado e energia para que tenhamos vida!
Publicado em:
https://pensamentocorporativo.com/pensamentos_corporativos_04_2022_742/
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