Muito se fala sobre diversidade de gênero nos conselhos de administração, entretanto gostaria de trazer nesse artigo um pouco sobre diversidade de atuação dos conselheiros nas suas carreiras executivas, em especial atuação prévia em Operaçoes/Supply Chain.
Em primeiro lugar, tratemos Operações/Supply Chain como conjunto das 4 operações básicas que compõe: Suprimentos, Produção, Distribuição e Planejamento 1. Essa abordagem trata de fluxo de materiais e informações na cadeia de valor da empresa do início ao fim (end to end), que envolve as 4 áreas principais de Operações/Supply Chain:
- Suprimentos
- Planejamento
- Produção
- Distribuição Logística
Tipicamente Conselheiros de Administração tiveram atuação prévia como executivos durante grande parte de suas carreiras, podendo também ter atuado, em menor escala, como consultores, professores ou profissionais autônomos. Dentre as áreas de atuação como executivo, tipicamente encontramos maior atuação como CFO, Vendas/Marketing, Recursos Humanos e CEO. Mesmo porque, muitas reuniões de conselho ainda têm 70% do tempo gasto em finanças2, prática essa que tende a mudar com maior maturidade do conselho de administração, incorporando outros assuntos relevantes ao negócio no momento e para o futuro da empresa.
Entretanto, de acordo com o Board Index 2020 da Spencer Stuart3, nas empresas de capital aberto na Bolsa de Mercados no Brasil, seus conselheiros têm origem em primeiro lugar em Telecom, segundo em Indústria e depois demais setores. Portanto, sendo a Indústria um setor relevante de origem dos Conselheiros de Administração, existe, portanto, algum conhecimento da gestão da cadeia de valor nesses conselheiros. Entretanto, conselheiros com atuação prévia em Operações/Supply Chain ainda é pouco comum.
Respondendo à pergunta do título desse artigo, executivos com atuação prévia na gestão de Operações/Supply Chain possuem uma visão sistêmica de processos de negócios que muito podem contribuir à formação/diversidade do conselho de administração de uma empresa. Cada elo da cadeia de valor se conecta com diferentes partes do negócio, como elucidado abaixo:
– Inovação: a conexão da cadeia de valor com inovação deve ser contínua em função da estratégia de produto e processos. A cadeia fornecedora e capacidade de transformação e entrega de produtos4 contribuiu para diferenciação no mercado. Além da inovação em si, é importante também considerar os aspectos de sustentabilidade de forma ampla: resíduos, emissões, origem dos materiais, reciclagem, enfim todos os impactos ao planeta – do berço ao berço5, como preconiza a economia circular6. A sustentabilidade engloba várias ciências7: ciências naturais, ciências sociais, normas e políticas governamentais que vão interagir com as operações da empresa
Operações/Supply Chain inovador e sustentável pode ser decisivo na capacidade e velocidade da empresa de entregar o produto desejado ao cliente
– Financeiro: a relevância dos custos é muito significativa no P&L ( Profit & Loss) da empresa: custos de materiais, conversão e distribuição, geralmente com impacto significativo na margem final da empresa.
Operações/Supply Chain eficiente é importante para lucratividade da empresa
– Vendas/Marketing: as interações com Operações/Supply Chain são muitas, desde a gestão do S&OP (Sales & Operations Plan de curto, médio e longo prazo) até as questões de responsividade e trade offs necessários no dia a dia da gestão dos negócios. Não basta ter uma cadeia de valor eficiente, mas também responsiva4. É a cadeia de valor que entende as necessidades do mercado em termos de lead time, inovação não só em produto, mas também na forma de entrega ao consumidor através de diferentes formas de coleta de pedidos e canais de distribuição (considerando oportunidades omnichannel). Importante também ressaltar que Operações/Supply Chain é responsável pelos assets e fornecedores da cadeia de valor da empresa. Dessa forma, portanto participa das discussões das necessidades do mercado e planos do negócio a fim de se preparar para atender a demanda, da forma mais eficiente e racional possível. Tipicamente os investimentos na cadeia de valor levam tempo para serem implementados.
Operações/Supply Chain responsivo, inovador e com visão de longo prazo é aquele que atende as necessidades dos clientes no tempo e na forma esperada
– Pessoas: tipicamente Operações/Supply chain possuem uma grande parcela dos funcionários da empresa, na indústria e serviços também, com diferentes níveis de formação e com interação com toda a empresa. Dessa forma, gestores de Operações/Supply Chain necessitam desenvolver habilidades de gestão de pessoas, além das habilidades técnicas. Desenvolver os talentos e planos de sucessão são atividades que demandam muito da área de Recursos Humanos em parceria com Operações/Supply Chain.
– TI- Tecnologia da Informação: a cadeia de valor, como descrito anteriormente, se conecta com praticamente toda a empresa, clientes e fornecedores. Desta forma, numa era de Transformação Digital e Industria 4.0, competências de tecnologia de informação são essenciais para competitividade de Operações/Supply Chain a fim de buscar soluções de sistemas que possam fazer melhor fluir os produtos e informações.
Além, dos aspectos já mencionados, existem ainda as questões de gestão de riscos, sindicatos, contratos, qualidade, certificações, security, normas ambientais e muitas outras, onde Operações/Supply Chain está envolvida ou apoia outras áreas dentro da empresa.
Com isso, creio que consigo elucidar a relevância de Operações/Supply Chain na composição de conselhos de administração de empresas e como podem agregar valor.